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Respiramos arte...Vivemos arte...Passa em nossas veias um sangue diferente, talvez seja até colorido...rsrs E temos uma missão que muitos não irão compreender... Mas tudo bem, não queremos ser compreendidos, só queremos distribuir um pouquinho do que mais gostamos de fazer, Arte. Percebemos que só somos felizes se estivermos integrados entre nós e entre as linguagens artísticas, seja qual for o lugar em que vivemos. Não nos falta disposição e força de vontade para crescermos!!! Então, não nos falta nada. Mas cuidado!!! Ao ler e participar deste blog, poderá ser contaminado! E se isso acontecer, seja bem vindo ao nosso mundo!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Ponto de vista


MÚSICA, INFÂNCIA E A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA       


            A necessidade artística musical no ser humano é algo incontestável, pois desde o ventre materno estamos totalmente envolvidos em um universo sonoro ilimitado.
         Diante do objetivo a que queríamos chegar (gravar uma cd direcionado ao público infantil) e a temática já escolhida, houve a necessidade de abordar a concepção social de infância e sua relação com as mudanças na indústria fonográfica direcionada ao público infantil. Isto porque o conceito de infância varia com o decorrer da história e seria difícil falar sobre a música infantil sem fazer um paralelo com a criança de antes, até os dias de hoje.
            A infância, mais do que conceito biológico, é uma fase onde a sociedade tem influência direta sobre a criança, atribuindo valores e impondo regras. É um momento de intenso aprendizado para o indivíduo, período no qual muitos dos valores, crenças e opiniões se formam.
            No livro História social da criança e da família, Philippe Ariès (1978) descreve a visão da sociedade a respeito da infância no período medieval ao enxergar a criança com características ambíguas: inocente e impura, com características inatas e adquiridas, dependentes e independentes, acentuando a situação da criança no âmbito social e familiar. Ter um filho nesta época era visto como um empreendimento arriscado. A criança do Período Medieval é considerada como um adulto em miniatura. Aos sete anos, as que faziam parte da classe alta, eram obrigadas a ingressar no mundo adulto, forçadas a aprender como se fossem depósitos de informações, sem contar as roupas que eram obrigadas a usar e as responsabilidades que lhes eram impostas. As de classe baixa passavam pela mesma transformação, só que ainda eram obrigadas a trabalhar auxiliando os adultos nos afazeres domésticos e trabalho rural.         O tratamento que a criança recebia dos adultos se resumia em controle. Ou seja, o que se pretendia era dominar seus instintos, ensinar a se comportar como os adultos, logo, deixar de ser criança.
            No Renascimento o conceito de infância muda, trazendo uma valorização maior da criança e da família. Esta valorização vem acrescida de muitos mimos, demonstrando um contraste de comportamento em relação a época anterior. Neste período, a criança era exibida como um enfeite, ou como um “animal” que fazia graças.
            No início do séc. XVII, a família assume outro caráter no qual a criança torna-se o centro das atenções. Começa-se a entender a Infância como uma fase de desenvolvimento com características distintas e necessidades específicas. A partir daí, começa a se formar a imagem da fase “Infantil” distinta e especial, que chega até os dias de hoje.

A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA DIRECIONADA A CRIANÇA NO BRASIL
           
            A música infantil já acontecia nas brincadeiras de roda e de cirandas, já fazia parte do convívio das crianças, só não tinha nada gravado fonograficamente e nem tinha esse título infantil.
            O conceito de infância bem como o papel da criança na sociedade, somados com o advento da industrialização, fez com que também no ramo da Indústria fonográfica surgisse uma parte dedicada ao público infantil. A criança é o reflexo do seu tempo e a música infantil acontece paralelamente, conforme as características de cada tempo. Cada momento da indústria fonográfica é dirigido a um tipo de público infantil. Este público, caminha de inocente a rebelde e a oscilação é grande tanto no campo musical (sonoro e lingüístico), como na idéia da imagem da criança em cada tempo.
            Dentre os primeiros trabalhos direcionados especificamente ao público infantil, não se pode deixar de reconhecer o trabalho de Heitor Villa-Lobos que aproveitando as cantigas de roda, conseguiu imortalizá-las. Mas, o registro discográfico que se intitula o primeiro disco genuinamente direcionado ao público infantil no mercado brasileiro, seria no ano de 1950, com o título “Branca de Neve e os sete anões” lançado pela Continental Discos[1]. Foi uma adaptação de um filme da Walt Disney, dirigido por Carlos Alberto Ferreira Braga, vulgo João de Barro ou Braguinha. Não foi apenas o primeiro disco infantil, mas foi a primeira produção fonográfica direcionada a este público, produzida industrialmente. Foi uma conhecida coleção Disquinho produzida em compactos coloridos.
            Segundo uma pesquisa da FUPESP (Federação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo) na FFLCH ­(Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo- Brasil) a protagonista da história (Branca de neve) tem um perfil ativo, diferente das Brancas de Neve que viriam posteriormente.
            Analisando a Branca de Neve da década de 60, veremos que ela aparece com características mais passivas, envolta em um mundo de sonhos e fantasias, diferente da fase anterior concebida por Braguinha em que ela era mais ativa. Analisando também a parte sonora, a música começava a se opor aos sucessos das rádios com melodias curtas, tonais e alegres.
            Foi durante a década   de  60 que o rótulo infantil se define com grande força. Agora, a indústria fonográfica já tem um setor específico para este público. No final desta década o cenário da música infantil passa por um momento de transição. Os novos compositores sentem a necessidade de contar suas histórias, deixando um fundo moral. Também é neste momento que se destaca uma personalidade importante na música infantil: O Palhaço Carequinha. Ele gravou O Bom Menino (“O bom menino não faz pipi na cama/ O bom menino não faz mal-criação/ O bom menino vai sempre a escola...”) que vendeu 2 milhões e 500 mil cópias. Também foi ele o primeiro a gravar em discos, cantigas de roda como Atirei o pau no gato, entre outras. Segundo pesquisa no site cifrantiga[2], consta que o jornal Folha de São Paulo certa vez publicou, que Carequinha que teria criado o primeiro rock infantil no Brasil, intitulado: O rock do ratinho.
            Já na década de 70 a idéia de música infantil é consolidada. A coleção da Disney está no auge, agora lançada pela Abril Cultural e adaptada por Edy Lima. A característica mais aparente leva a uma negação da realidade e as personagens (Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho e Alice) são passivas e totalmente ingênuas, conforme a perspectiva do adulto, que queria somente proteger, orientar e educar as crianças. Neste período as representações musicais com os contos de fadas, o circo e os animais carregavam características de fantasia, ludicidade e folclore. Também carregavam temas educacionais e de moralidade que eram perceptíveis nas músicas de datas festivas, hinos, músicas religiosas e educativas. Toda essa fantasia musical de certa forma servia para controlar os impulsos infantis.   O que se pretendia com a música era transmitir à criança o ideal de comportamento que deveria ter, esperando assim que se tornasse um adulto dentro dos padrões estipulados pela sociedade da época.  Em 1976, iniciou-se a fase de reedições. Ou seja, fizeram-se poucas novas coleções que acabaram sendo marcadas pelo Marketing. Ex: “Sítio do pica-pau amarelo” e “Arca de Noé”. É o momento onde a Indústria Fonográfica Infantil se especializa e se torna profissional. A criatividade não tem limites tanto para os ideais comerciais quanto para o ideal estético musical.
            Por volta de 1980, abriu-se caminho para o surgimento de grupos infantis que obtiveram um sucesso enorme em vendas. Foi o início da produção em grande escala e as  músicas apresentavam excessivos refrões que martelavam o nome do grupo, do cantor ou do programa. Balão mágico, Trem da alegria e os Abelhudos fazem parte desses grupos infantis e quando essas crianças foram crescendo, houve as substituições que não apresentaram o mesmo efeito. Neste instante entram em cena os adultos infantilizados, dentre eles Xuxa, seguida de Eliane, Mara Maravilha e Angélica. Abre-se preferência para uma música acelerada e muito percussiva, além de uma melodia e harmonia muito simples. Se anteriormente a mídia apresentava crianças, bonecos, animais e objetos animados e coloridos, agora a mídia apresenta o adulto-ídolo que domina o público infantil e fortalece o comércio, ou seja, cresce neste período a relação entre a mídia, consumo e a infância. Se em um momento a indústria caminha conforme o público, em outro momento ela já tem total domínio para manipular este público.
            Quanto às histórias, agora os finais das histórias tinham um culpado. Ora o próprio personagem, ora o destino. A Alice agora é uma criança independente dos adultos, podendo decidir sobre tudo.
            O que fica claro é que a música infantil passou a caminhar de acordo com o conceito de infância que o mercado quer ver. A linguagem sonora e lingüística usada nas músicas é um fator tão importante que é capaz de incutir e futilizar valores.
            Analisando cada fase, podemos perceber características específicas tanto na parte sonora quanto na linguagem. O que se sabe é que a melodia de uma música pode provocar sentimentos antes mesmo de ter uma letra. A letra de uma música sem a melodia é talvez algo que não chame a atenção. Porém, quando esta letra é cantada, torna-se um instrumento capaz de mudar comportamentos.
            Com o grande avanço comercial da Indústria Fonográfica, a criança tem recebido e absorvido informações inúteis e até danosas ao seu desenvolvimento sociocultural e intelectual. O público infantil tornou-se para os produtores, consumidores em potencial. O que tem acontecido é que toda essa produção comercial acaba subestimando a compreensão musical infantil, privando assim a criança de informações que a tornariam um adulto musicalmente crítico.
            No livro Arte, Infância e Formação de Professores, Ostetto fala sobre a “massificação de produtos culturais” colocados para a sociedade conforme o “gosto do mercado” mais que o “gosto popular”.

                                      Na verdade, o povo, transformado em massa é também o mercado onde serão divulgados e vendidos esses artigos, como por exemplo, os produtos da indústria do disco. O que acaba acontecendo é que as músicas deixaram de ser obras artísticas para tornarem-se produtos industrializados (OSTETTO, 2004, p. 48).

            O poder da indústria de massa tem influenciado muito no gosto musical infantil, fazendo com que a criança goste até mesmo de trabalhos que não são direcionados a ela. O ditado popular “gosto não se discute” se torna um tanto quanto questionável quando nos deparamos com a realidade. Com uma simples pergunta direcionada a uma criança podemos traçar o perfil da infância de hoje, como por exemplo: De que música você gosta? Porque você gosta desta música? As respostas serão quase que sempre as músicas Top das rádios e dos programas de TV. Ou seja, temos uma infância totalmente hipnotizada pela mídia, uma infância atraída apenas por um ritmo dançante e um modo de ser sem muitas regras. “Tais músicas não têm somente uma proposta de dança, mas uma proposta de consumo sendo assimilada e um jeito de ser no mundo” (OSTETTO, 2004 p. 52). 
 
           


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